Madalena nasceu de sete meses no sétimo mês de um ano impreciso, lá nas brenhas da fazenda munguba com suas serras altas e um verde monstruosamente canavial. Aos sete anos perdeu o pai, mais sete anos achou a mãe que de nada lhe serviu, aos dezessete estava perdida no mundo enquanto Amaro morria de saudades. Ela vivia pelas gandaias da linha do trem na cidade de Muricy, faturando melhor aos sábados, domingos, feriados e em dias de enterro. Carregava um sorriso largo, uma malícia matuta, e o desejo da derrota. Mas ai apareceu João Paulo, uma benção caída dos céus. Madalena foi levada à capital, promoveu-se na vida, da linha do trem pra orla de Maceió, faturava mais, a vida melhorou, o único contratempo eram as bolachas que João Paulo vez ou outra lhe dava. Juntou umas patacas, e iludida por uma falsa intenção debandou pra Brasília aos serviços de um tal engravatado. Lá houve umas denúncias, Madalena acabou sendo implicada, quase foi presa, ficou famosa nos noticiários. Ameaçada e assustada voltou pra Munguba onde morava uma tia-avó de segundo grau. Reencontrou Amaro que lhe ofereceu o coração em troca da mão, mas só recebeu uma recompensa em carne e suor. O mundo levou Madalena outra vez antes que Amaro vivesse de amor. Madalena não tinha coração pra ninguém, só tinha olhos pro mundo. E a estrada torta de sua vida a levou a Recife. Um dono de pousada em Boa Viagem lhe deu abrigo e ela lhe deu a única coisa que podia. Arisca, cansou, pensou, voltou, sorriu e Amaro avermelhou-se aos seus pés. O tempo passou, os filhos vieram, o mundo mudou, os cabelos se embranqueceram. Amaro ainda lhe era devotado, e a devoção era pra ela sentimento estranho. E foi assim pelos restos dos sonos de sua vida até que dormiu e não acordou mais. Por mais alguns anos ainda viveu na saudade que matou Amaro. E mesmo na saudade não conseguiu correspondê-lo. Madalena a vida toda viveu nada e só amou ninguém.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBelíssimo conto, linda estória, de amor, dor, e devoção... Parabéns ao autor pela sensibilidade, sutileza e pela magnitude em esboçar com maestria essa proeza.
ResponderExcluirPARABÉNS MELQUEZEDEQUE!!! BRAVO!!! É UMA HONRA TER ESSE POETA, PENSADOR, ESCRITOR COMO MEU AMIGO. ABRAÇO DO SEU AMIGO REIZINHO CASANOVA.
ResponderExcluirEu diria que Madalena realmente não teve uma convivência humana baseada no amor maior, aquele que a criou tão bela ,tão destemida e merecedora da dádiva Divina da maternidade. Ela pode nao ter tido uma vida social de amor, mas gerou em seu ventre o amor materno.
ResponderExcluir