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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A análise do gênero Charge na relação entre infra-estrutura, as superestruturas e o signo subsidiada em Bakhtin

Por Melquezedeque Farias Rosa

A Charge se mobiliza pelo signo verbal e pelo extraverbal, e trilha a estrada da crítica social. O signo, enquanto fenômeno imanentemente social e ideológico por excelência é determinado pela infra-estrutura sob o teto da materialidade histórica. As relações de produção são o componente central da infra-estrutura, e o dínamo da superestrutura, e conseqüentemente participa incisivamente da formação do signo.
Mas, o movimento de constituição do signo não se dá de forma direta e imediata desde a infra-estrutura até a superestrutura como num bate-rebate; o signo se constitui no tecido da materialidade histórica que envolve os urdumes da infra-estrutura e as tramas da superestrutura. Isto é, infra-estrutura, superestrutura e signo são estreitamente relacionáveis como as duas cascas de um sururu cujo miolo é representativamente o signo ideológico.
Ao se mobilizar pelo signo na crítica social do cotidiano, a charge apresenta os elementos ideológicos num determinado espaço-tempo (cronotopo) que deriva na ideologia do cotidiano. Os elementos verbais e extraverbais acabam por servir, portanto, como matéria prima para o estudo da charge e de suas especificidades inserida no contexto de suas condições de produção.
E a palavra? Como se configura a palavra na condição de signo ideológico? Com a palavra o próprio Bakhtin:
As Palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios. É portanto claro que a palavra será sempre o indicador mais sensível de todas as transformações sociais, mesmo daquelas que apenas despontam, que ainda não tomaram forma, que ainda não abriram caminho para sistemas ideológicos estruturados e bem formados. (BAKHTIN, 1986, p. 41)
            Em seu processo histórico-material de tessitura, as palavras na condição de signo ideológico se movem em todas as ondas do fluxo social da vida, de macaréu a tsunami. Ela Participa de toda atividade vital, de toda vida ativa, de toda atividade mental, de toda mentalidade viva, de toda criatividade humana, e, porquanto, interfere nas mudanças, nas transformações de toda sorte, para o bem ou para mal. Em síntese: “A palavra é capaz de registrar as fases transitórias mais íntimas, mais efêmeras das mudanças sociais.” (BAKHTIN, 1986, p. 41).
         Por tudo e naturalmente, os sujeitos ou indivíduos da interlocução em uso da palavra enquanto signo ideológico e sob determinada situação corrobora a comunicação sob um horizonte social delimitado e ambiente específico.
Razão pela qual as formas do signo são condicionadas tanto pela organização social de tais indivíduos como pelas condições em que a interação acontece. Uma modificação destas formas ocasiona uma modificação do signo. (BAKHTIN, 1986, p. 44)
         Por tudo que foi decorrido até aqui, é positivamente sensata a proposta metodológica de análise das formas de enunciação e das formas comunicação verbais feitas por Bakhtin:
1. Não Separar a ideologia da realidade material do signo. (colocando-a no campo da ‘consciência’ ou em qualquer outra esfera fugidia (sic) e indefinível).
2. Não dissociar o signo das formas concretas da comunicação social (entendendo-se que o signo faz parte de um sistema de comunicação social organizada e que não tem existência fora deste sistema, a não ser como objeto físico).
3. Não dissociar a comunicação e suas formas de sua base material (infra-estrutura). (BAKHTIN, 1986, p. 44)
Ora, sendo a charge uma forma de comunicação específica cujo conteúdo temático se fia nas formas de enunciação, ou seja, num processo íntimo de significação entre as palavras, a análise da charge deve também se fiar à observação desse processo de significação na sua relação com o(s) tema(s), com o conteúdo temático. Isto considerando, cronotopicamente, os elementos extraverbais partícipes do horizonte social que norteia o processo de comunicação e o próprio ambiente de efetivação dos participantes envolvidos. O que torna possível situar a análise das formas de enunciação da charge enquanto forma de comunicação na relação entre duas categorias maiores: infra-estrutura e superestrutura, em cujo bojo, o signo se processa. Em síntese, torna possível a análise da charge relacionando ‘ideologia’ e ‘realidade material do signo’; ‘as formas concretas da comunicação social’ e o ‘signo’; ‘a base material’ e ‘a comunicação e suas formas’.
Concluso. Nada de mais prolixidade!





Referencias
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1986.

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