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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Divagando em algumas questões de Lingüística Aplicada

Melquezedeque Farias Rosa
          Os estudos lingüísticos, com toda sua variedade de concepções fenomênicas, podem ser situados entre dois pólos: o pólo de caráter meramente descritivo e o pólo de caráter meramente prescritivo. A Lingüística Aplicada (LA, doravante) tende a cerzir um equilíbrio entre esses dois pólos. A elaboração de uma metodologia transdisciplinar de pesquisa se configura como elemento imprescindível para tal equilíbrio. Nesse sentido, a questão da transdisciplinaridade já começa a assumir importante papel para a prospecção de resultados no terreno de pesquisa delimitado pela e para a atuação da La. Nessa acepção, a transdiciplinaridade em La é o morador e moradia.
Mas, como a transdisciplinaridade em LA contribui para o equilíbrio entre a descrição e a prescrição? Pode estar se perguntando o leitor. Bem, em LA, ao ter como objeto de pesquisa “a questão real de uso de linguagem colocados na prática social dentro ou fora do contexto escolar” (ALMEIDA FILHO, 2007, P. 23), necessita ir além do terreno da Lingüística para chegar aos resultados condizentes com sua própria definição de objeto. A La, desse modo, precisa construir parcerias, construir cômodos em sua própria moradia para contribuições de outras ciências ou áreas afins. A depender do fenômeno escolhido e do andamento dos estudos desse fenômeno, ou ainda em sentido mais amplo, a depender da configuração que o andamento da pesquisa vai adquirindo segundo a necessidade real de compreensão do fenômeno escolhido, o lingüista aplicado faz e vai fazendo suas opções pelas ciências ou áreas afins que possam ajudá-lo em seu trabalho de descobertas. E com base na descrição compreensível de todo o processo, ocorre o lançamento de proposições acerca do fenômeno estudado. Isso significa que em LA não se prescinde de um caráter prescritivo no sentido de propositivo.
 Dessa maneira, na La, a transdisciplinaridade assume um importante papel de mordomo e relações públicas por ser ela quem convida e acomoda os convidados ilustres que a LA, na condição de boa anfitriã, recebe de método aberto.
Pelo decorrido acima se percebe que ser transdisciplinar faz parte das características da LA. Sem receio ou pedido de permissão a algum autor, é possível definir transdisciplinaridade em LA como uma mediação, uma mediação da LA com as outras ciências, do lingüista aplicado com o sociólogo, com o filósofo, com o educador, com o pedagogo, com o historiador, com os outros lingüistas e assim segue...
O fenômeno escolhido é o centro da mediação entre a LA e as demais ciências ou áreas afins, entre o lingüista aplicado e os demais cientistas ou estudiosos.   
Outra característica importante da LA, além de transdisciplinar e, conseqüentemente, mediadora é ela ser “centrada na resolução de problemas de uso da linguagem” (ALMEIDA FILHO, 2007, p. 23). Ora, essa característica transparece a dupla-face da pesquisa em LA, que despolariza a relação descrição x prescrição. Ao estudar um fenômeno lingüístico, descrever e apresentar seus problemas de uso, o lingüista aplicado também busca resoluções e lança proposições para tal fim. Essa postura tem se constituído historicamente como da natureza da própria LA, em que teoria e prática, reflexão e ação, crítica e sugestão percaminham nas retas e curvas da estrada da pesquisa como coisa una, indissociável como nascimento e morte. O processo é a vida.
O parágrafo anterior nos faz perceber ou pelo menos subentender o que significa dizer que “em LA, a teoria informa a prática e a prática informa a teoria” (MOITA LOPES, 1998).  A pesquisa em LA funciona como um vaivém reticente. O pesquisador chega com uma proposta de investigação encaminhada por uma ou mais questões relativa(s) a um fenômeno de uso da línguagem, mas a observação real do fenômeno retroage sobre a proposta original contribuindo com ela ou mesmo modificando-a. Nesse sentido teoria e prática se constituem num corpo só, uno e indissociável; uma informando a outra e vice-versa. Por essa razão, A concepção científica da LA é monista. Assim como nascimento e morte estão juntas na vida, teoria e prática estão juntas na pesquisa cientifica em LA. Indissociavelmente. O bom da vida é que ela é a única categoria que não tem elemento contrário.
O monismo em LA é uma tendência significativa já plena em realização, mas ainda “Há, em algumas pesquisas em LA, uma tendência a privilegiar o conhecimento que leva em consideração a visão dos participantes do contexto social em que a investigação está sendo realizada”. Bem, isso fica bastante visível em trabalhos relativos à questão do ensino de língua e literatura baseados na centralidade do texto numa perspectiva do leitor. E nisso há influência da Teoria da Recepção que vê a leitura como uma apropriação pelo leitor enquanto recriador, e o produtor como um expropriado. As pesquisas em LA que privilegiam efetivamente os participantes correm sério risco de paraplegia, o caminho mais adequado mesmo é o da busca do equilíbrio entre pesquisador e participantes, entre sujeito e objeto, entre lingüístico e extralingüístico, sem polarizações. A materialidade histórica de uma pesquisa deve envolver os sujeitos-participantes, o fenômeno e o ambiente. Sem privilégios.
Uma vez que o objeto da LA é a língua viva no sentido de concretizada no uso real. Os trabalhos de pesquisa devem ter como urdume e trama de sua tessitura o processo vivo na sua plenitude e pleno na sua vivacidade considerando como participantes os três elementos do contexto citado nessas duas últimas linhas do parágrafo anterior. Isso leva a pensar a metodologia em LA centrada como uma pesquisa de processo despolarizada.  Esse tipo de metodologia de pesquisa tem muito a contribuir, por exemplo, com o ensino de línguas visto que ao partir das condições concretas de uso da linguagem poderá encontrar proposições viáveis a solução de problemas. E esse é o papel da LA para a elaboração de um plano metodológico de abordagem para o ensino de língua: fazer da língua viva a vida da LA estudando os fenômenos relativos ao uso real da linguagem onde a língua se manifeste, com o fito de desvendar os possíveis segredos de seus problemas e oferecer à sociedade possíveis propostas de resolução. Ser propositiva deve ser o ser mais íntimo da LA: o devir. Possível.
A LA é jovem e carrega velhas e pesadas responsabilidades. Ela Herda do passado a transigência de muitas idéias, e do presente a transitividade de muitos sentidos. Mas, pelos caminhos já trilhados e pelos que já estão sendo, a LA vai encontrando e reencontrando espaço, quebrando barreiras dentro e fora de si mesma; unindo pólos que para alguns pareciam inconciliáveis, costurando alianças que para outros pareciam intrigas imperdoáveis. Vivendo a vida como um complexo processo. A vida que nos convida a ignorar que morremos e a lembrar que nascemos. O processo é a vida da LA. A La que já se tornou vida.  

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