Aos
marxistas e anarquistas: sobre a necessidade de agir acima das questiúnculas
__
Com ênfase à relação entre PSTU e Anarquistas alagoanos nos últimos anos
O
presente costuma ser esse acúmulo de tantas coisas num vazio aparentemente
incompreensível. Os historiadores parecem já ter percebido isso desde que os
dentes caíram da boca das galinhas. Em minha primeira aula de História geral na
quinta série primária lá no ano de 1989, a professora Verônica, acho que o nome
era esse, disse a turma, sem ninguém perguntar e talvez por isso eu lembre, que
a História é o estudo passado para melhor compreendermos o presente. Claro que entendi
apenas quase alguma coisa do que aquela mulher loira dos lábios rosados estava
falando. O tempo foi passando e à medida que meu conhecimento da História foi
se consolidando, eu fui entendendo o que aquela gaúcha, radicada em Maceió com
sotaque bonito, estava me falando. O passado não é mesmo elemento que se negligencie.
E isso é perfeitamente aplicável à relação atual entre o PSTU, meu partido de
coração e mente, e o anarquismo pelo qual tive uma passagem de quatro ou cinco
anos e onde aprendi bastante. O
anarquismo foi minha primeira escola de formação, e o marxismo foi aquela que
se entranhou em mim tanto quanto eu nela.
Anarquistas e Marxistas, apesar das
divergências internas, não deixaram de perceber as convergências externas existentes.
Isso é algo que sempre é necessário ser retomado toda vez que nos perdemos no
rio raso das questiúnculas e corremos o risco de adormecer e naufragar no mar
profundo das grandes questões. As pequenas questões diante das quais divergimos
não devem eclipsar aquilo que é central tanto para os marxistas do PSTU quando
para os Anarquistas: a superação do modo de produção capitalista. Esse ponto
convergente entre nós, tão importante e, conseqüentemente, com todos os seus
desdobramentos em questões de menor peso, é que me faz chamar a atenção de
todos nós, incluindo a minha própria que sou tão falho, às vezes, e fico
escrevendo besteiras, da necessidade de relembrar, para quem acredito não ter
esquecido, que nossa luta não é contra nós mesmos. Reiterando, esse não é o
momento para anteciparmos uma discussão reservada ao futuro. O devir não deve
ser a base dos problemas presentes, por simplesmente não ter acontecido ainda. É
fantasmagórico agir assim. E aqui eu trago de volta, na humildade, a lição daquela
minha professora de História da quinta séria com toda beleza inesquecível
daquele par de olhos azuis: a História é o estudo passado para melhor
compreendermos o presente.
E, observando especificamente a relação
entre o PSTU e os Anarquistas aqui em Alagoas nos últimos anos, circunscrevendo
essa relação ao espaço universitário, eu lembro que nossa relação era bastante
lúcida no início dos anos dois mil; tínhamos nossas divergências e até
discutíamos elas, em alguns momentos até passionais e venéreos, mas esse rio
era raso perante o mar aberto do confronto secular instaurado contra o modo de
produção capitalista, contra o qual, nós apontávamos, juntos, o socialismo como
alternativa. Essa relação funcionou saudavelmente, compusemos e construímos tantos
e inumeráveis momentos e espaços: disputamos DCE, CA, organizamos festivais, manifestações,
semanas de curso, etc. etc. etc. etc. etc. etc.
Alguns companheiros anarquistas freqüentavam
as atividades do PSTU e visse versa. Discutimos na mesma roda muitas vezes,
resguardando sempre as necessárias divergências. Como esquecer o CAZP (Coletivo
Anarquista Zumbi dos Palmares) e seus membros: Bruno Fontan, Márcio, o Falcon,
e tantos outros? Como esquecer a Comuna Estudantil? Como esquecer a luta contra
a ALCA, e etc. Essa relação saudável, essa conjunção de forças onde as
diferenças eram problemas bem tratados à medida do possível, provoca em mim um
fluxo de recordações tão intensos que chego a namorar com a nostalgia. O que
perdemos? E se perdemos é para sempre? Fechou-se de vez o diálogo para nosso
próprio prejuízo, foi isso? Pois hoje percebo o acirramento de disputas
desnecessárias, quinquilharias, um rio raso adormecendo o mar de nossas lutas. Erro
tático? Possivelmente mais que isso: uma aberração tática. Não é o momento para
isso. Doloroso é esquecer nosso passado. Eu prefiro até lembrar o jeito de
caminhar da minha ex-professora para que isso me suavize.
O caminho para as possibilidades de
sempre ainda está ai. Só precisamos recobrar o caminho para o diálogo
propositivo centrando nosso foco contra o que realmente nos desagrada, que
sabemos o que é e nem vou recitar. O nosso passado mostra a necessidade do presente,
deixemos para o futuro as questões a serem tratadas lá. É necessário agir acima
das questiúnculas, e, para isso, é melhor seguirmos o ensino da minha professora,
que me fez apaixonar, não apenas pelas curvas do corpo dela, mas também, pela
História.
Nenhum comentário:
Postar um comentário