Por Melquezedeque
Farias Rosa
A virada da década e a
década da vitória...
(À nossa juventude,
para celebrar meu retorno)
Certa vez eu estava correndo livre pelas serras dos meus pensamentos.
Mil coisas passavam diante daquelas aparentemente irrecuperáveis. Olhava a paisagem
em volta e todo cenário era triste, era a tristeza de um mundo sem coração; e o
que havia como última representação de esperança estava desmoronando no
leste. Por aqui os trombeteiros burgueses do apocalipse anunciavam o fim da História: “O capitalismo venceu, soterrou a utopia socialista”__ gritavam
eles na crista de suas vaidades. Muita gente de valor esmoreceu e desasteou
suas bandeiras, baixou seus olhos, calou sua voz. O sentimento era de túnel sem
luz.
Se anteriormente havíamos vivido a década perdida, agora
vivíamos a perda da própria década. O vazio causado pelo suposto fracasso do socialismo
assanhou a burguesia que se avassalou ainda mais sobre os direitos e conquistas
sociais adquiridos; e aprofundou um ininterrupto processo de privatizações que
duraria sem prazo. Para tornar tudo ainda mais tenebroso, os maiores
instrumentos de luta que tínhamos capitularam, passaram um a um a se ajoelhar e
a rezar com a cartilha dos exploradores nas mãos: PT, CUT, MST, UNE, etc.
Traidores.
Da poeira dos desabamentos surgem diversas tentativas de
explicação, cada uma mais mirabolante que a outra. “Estamos diante do mundo
pós-moderno”, diziam esses novos profetas do vazio. E logo uma corredeira
irracionalista ganhou fôlego, virou moda e moeda, e não faltou que quisesse usar
a etiqueta do momento. Surgem as misturas mais absurdas de pensamento: de
canibais horticultores a vegetarianos açougueiros; tudo poderia ser
aceitavelmente combinado; a explicação disso era atribuída à perda da
identidade do indivíduo num mundo em que todos os valores se desfizeram. Que
imaginação red-bull!
Tudo também passou a ser renomeado e ressignificado, mesmo
que o sentido, subjacentemente, não mudasse: o indivíduo alienado passou a ser
chamado de sujeito fragmentado, a cultura se tornou líquida, a narrativa entrou
em crise, a realidade morreu enforcada na corda das verdades impossíveis, e as
cores apenas um efeito da luz do sol sobre a matéria captado pela retina dos
olhos. “O ponto de vista determina o objeto”, gritam ainda os etiquetados pelo
neomodismo; ou ainda com mais sofisticação: “a realidade é uma mera projeção do
intelecto humano”. E assim surgiu toda uma formação discursiva, toda uma
fraseologia cheia de cascas cujo interior __ para quem tem paciência, coragem e
disposição honesta para cavoucar__ era oco. Tudo não passava do irracionalismo
ideológico burguês da virada do século XIX recomposto em muitas faces com o
propósito de cegar, de ludibriar, de desencaminhar, de destruir.
Entretanto, assim como a comédia parodiada pode ser farsa, a
farsa parafraseada pode ser a maior das comédias. A resposta poderia vir, e veio pela
resistência daqueles que não baixaram a cabeça, que não abriram seus punhos,
que não se acomodaram em frente à TV. Esses criaram novas alternativas: os
expurgados da traição petista formam seus partidos, dentre eles o PSTU, os insatisfeitos
pelas centrais pelegas formam uma base de resistência, alguns movimentos pela
terra não rasgaram suas bandeiras, os estudantes não representados pela UNE
constituíram a ANEL, e todos eles juntos fundam a CSP-Conlutas__ um grande
exemplo de Central Sindical, agregando muitos outros grupos de resistência.
Agora estamos voltando a ser fortes e confiantes. O otimismo
voltou a movimentar nossas cabeças, acompanhado da indignada alegria dos jovens.
Se a virada da década foi gelada, estamos agora no calor da década da virada.
As ferramentas temos novamente. Quem achou que enterrou o socialismo, fique
certo de que velou por mais de uma década um caixão vazio; quem compôs ideias
com as etiquetas pós-modernas, fique certo de que a hipocrisia e a demagogia delas
estão cada vez mais desmascaradas; quem se acha lindo e fofo ser fragmentado,
fique certo de que já é hora de juntar seus cacos e vir se completar na
História que estamos reescrevendo.
Dessa maneira, eu estou correndo livre pelas serras dos meus
pensamentos mais uma vez, e apenas uma coisa parece dominar meu coração e
mente: eu não arredo mais. Afinal, o alento para a tristeza de um mundo sem coração
está na possibilidade da reconstrução desse mesmo mundo.
Avante todos aqueles dispostos a lutar pela alternativa
socialista!
Saudações aos nossos jovens combatentes!
Avante, camarada!
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